O jornal impresso vai acabar.
Pelo menos no formato e na quantidade que existe hoje. Não embaso isso no
anúncio dado pelo Diário de Natal em não mais circular na versão de papel, nem
em elucubrações acadêmicas e afins. Afirmo isso com convicção pelo que vi e
ouvi quando estive em São Paulo, maior mercado de jornalismo do país, durante
dois meses de curso no Estadão.
O melhor termômetro para indicar
uma tendência é o mercado. Ele que indica para onde vai esse troço chamado
papel. E, no mercado, pelo menos no dos grandes jornais, a grande questão é a
de monetizar cada vez mais o conteúdo na internet e em outras plataformas e
cortar gastos, como impressão, distribuição e até jornalistas.
O movimento parece ser claro e
único na extinção do impresso. As redações de grandes jornais e revistas hoje
operam com a metade de profissionais que tinham no passado – e demitem
anualmente -, por outro lado, há um boom no mercado de notícias online. A
receita publicitária está minguando na mídia impressa e sendo transferida para a
internet, onde a competição pelo bolo é muito maior. Com isso, a receita,
salvo raras exceções, como é o serviço pago de notícias para o mercado
financeiro da Agência Estado, é insuficiente para manter as
duas plataformas.
Uma das grandes esperanças da
sustentação financeira das empresas de comunicação está no sistema do paywall,
implantado com sucesso pelo New York Times. Ele consiste basicamente em um
sistema poroso de cobrança do conteúdo, onde o leitor tem gratuitamente uma
quantidade de artigos por mês e também pode ler conteúdo compartilhado nas
redes sociais. O restante é pago. A ideia é cobrar o leitor assíduo e deixar
livres os que caem de paraquedas no site. A Folha tenta algo semelhante
atualmente e, dizem, está tendo sucesso.
Na minha estadia em São Paulo,
tive palestras com o diretor editorial de todo grupo Estado, Ricardo Gandur, e
com o colunista do New York Times, David Carr. A fala dos dois seguia um único
rumo: se as empresas não cobrarem por conteúdo na internet e não melhorarem o
formato e o próprio conteúdo oferecido, elas irão à falência. Ocorre que, para
o bem ou para o mal, o jornalismo depende cada vez mais do leitor e menos dos
anúncios e o desequilíbrio financeiro se dá porque o número de leitores ainda
não é capaz de sustentar financeiramente a queda na receita publicitária.
Este desequilíbrio se acentua
ainda mais no impresso, onde os custos de produção são mais altos. É por isso
que eles tendem a desaparecer, dando lugar a versões online e mobile, cujo
custo é mais barato (distribuição e impressão: zero) e as possibilidades são
infinitas. O processo só não é mais veloz pelo glamour e pela influência que a
notícia no papel ainda tem, mas isso tende a se diminuir com o passar dos anos.
Outro processo que se observa é
de cunho cultural. Comprar jornal foi um hábito mantido por diversas gerações. As
novas preferem comprar um aplicativo na Apple Store ou no Google Play, por
exemplo, a receber o impresso em casa, ou compra-lo numa banca. É mais prático,
é mais fácil e, por fim, mais barato. A forma de consumir notícia
mudou e isso é um processo que está se aprofundando cada vez mais. As empresas
já sabem que têm de se adaptar a essas mudanças.
Não há para onde correr, a
comunicação passa por um processo irreversível de mudança. Profissionais e
empresas precisam se adaptar a essa nova forma de produzir e difundir conteúdo,
com uma participação cada vez maior do leitor no processo de produção da
notícia. Não é o fim do jornalismo, mas de uma forma de produzir e consumir
conteúdo. Os tempos, felizmente ou infelizmente, são outros. É preciso olhar
para frente.
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