A Fé que move

Ajoelhada, a moradora do bairro de Felipe Camarão, Gilka Daiane da Costa, 25, entra na modesta Capela dos Santos Reis e segue o caminho dos fiéis até pedir benção em frente a imagem dos santos. Ela paga uma promessa feita há 10 anos pela saúde da mãe, Gelza da Costa, 43, que quase morreu vítima de complicações em um parto. A devota de Felipe Camarão é uma das mais de 10 mil pessoas que estiveram na quarta-feira (6) na tradicional procissão e na missa em homenagem aos Reis Magos no bairro de Santos Reis.

A procissão de quarta encerrou as celebrações em homenagem aos três Reis Magos, que começou no último dia 20 de dezembro no bairro. Organizador do evento religioso há mais de 10 anos, Gilmar Pereira ressalta a importância das comemorações religiosas dedicada aos Reis, que presentearam Jesus Cristo na ocasião do seu nascimento. “Além da importância religiosa, a procissão relembra uma data histórica da cidade”, afirma o padre, em referência também ao aniversário de construção da Fortaleza dos Reis Magos.


Para a tradição católica, segundo o Padre Gilmar, o Dia de Reis encerra um ciclo que teve início no natal. “A Festa de Santos Reis, comemorado neste dia 6 de janeiro, encerra o ciclo religioso da epifania do senhor”, revela o pároco. Durante a procissão, foi leva-da a imagem dos Santos Reis e da Sagrada Família – que compreende Maria, José e Jesus - em dois carros, segui-do por milhares de fiéis que seguravam bandeiras amarelas e brancas. “As cores das ban-deirinhas representam as cores do vaticano.”

Para garantir a ordem e a segurança dos fiéis, a polícia militar montou uma estrutura especial para a procissão. Estiveram presentes 40 ho-mens que fizeram o patru-lhamento durante toda a ca-minhada dos fiéis. “Tradicio-nalmente não temos ocorrên-cias graves por aqui”, disse o Aspirante Cláudio, um dos responsáveis pelo patrulha-mento local. Além disso, ou-tras três viaturas reforçava a segurança local.

Devotos

Durante os ritos religiosos que aconteceram antes e durante a procissão, era comum encontrar fiéis vindos de todos os bairros de Natal. Maria Sofia veio de Soledade II, Zona Norte de Natal para a caminhada. Devota dos reis magos, ela pedia saúde para a família e amigos. “Há muito tempo venho e sempre peço por saúde e paz lá em casa”, conta a devota. O casal João Venturini, 75 e Geralda Dias, 72, moradores do bairro de Nova Descoberta também vieram pedir pela família. “Todos os anos estamos aqui pedindo graças”, disseram.

Entre os devotos presentes na procissão do dia de reis, ne-nhum deles talvez se iguale a Maria Francisca de 88 anos. A memória falha quando questionada se pode especificar desde quando prestigia as celebrações do Dia de Reis. “Ah meu filho, venho para cá há muitos anos”, conta a anciã. Ela, que morava em Angicos, vinha com a família desde pequena acompanhar os ritos. Hoje moradora no bairro da Redinha, a idosa caminha sozinha pelas ruas de Santos Reis com a uma bandeirinha amarela em punho, um guarda-chuva e um chapéu branco. “Eu venho porque gosto das coisas da igreja” conta.

Na onda de fiéis que cami-nhava pelas ruas de Santos Reis e das Rocas, estava uma menina pequena e tímida, vestida com um manto azul no corpo, sandálias de couro nos pés e um lenço branco cobrindo os cabelos casta-nhos. Bruna Tamara tem nove anos e, no momento, fazia uma promessa aos Reis. A-companhada da mãe, Daniele Nobre, 31, e da avó Lucília Nobre, 58 elas vieram de Parque dos Coqueiros especi-almente para a procissão. “Quando terminar, vamos deixar o manto na igreja”, disse a avó. Bruna pede a recuperação de uma doença, que preferiu revelar. “Ela está vestida de Nossa Senhora”, disse Lucília.

Dentro da igreja, devotos deixavam esculturas de gesso e velas próxima a imagem dos reis – como forma de pagar promessas. Ilza da Costa, 80 anos, era uma delas. Bisavó de Gilka da Costa, a idosa estava com os tataranetos na igreja e pedia para alguém ajudá-la a acender uma vela em homenagem aos Reis. Com um punhado de velas na mão, ela agradeceu com um sorriso quando se prontifica-ram a acender. “Há 30 anos venho e acendo uma vela na igreja”, diz. A filha dela, Gelza da Costa, emocionada estava do lado da mãe, junto com os netos. “Estou espe-rando a minha filha, que vai entrar de joelhos na igreja”, disse, momentos antes de Gilka da Costa aparecer na capela.

Um comentário:

  1. Eu sou assim meio herege, confesso. Mas não tem coisa mais linda que a fé.

    Muito bonita a história dessas pessoas que você contou. Eu sou louca pra acompanhar uma procissão e fotografar (espero fazer isso em breve).

    Até vi uns registros no blog do Canindé Soares e me emocionei. Lá tinha fotos da D. Maria Francisca, tão linda segurando uma bandeirinha amarela pedindo Paz. Tão simples, humilde... tão perfeita! Me fez lembrar meu tempo de menina, tempo em que eu frequentava a Igreja, acompanhava as novenas de Nossa Senhora Santana e rezava o terço como ninguém da minha idade. Tempo que eu tinha medo do Pe. Monteiro sempre que ia me confessar... e lembro que ficava me perguntando se 1 Pai Nosso e 2 Ave Marias como penitência representava muitos pecados...

    Até professora de hino eu fui. Ensinava com dedicação o cântico de Nossa Senhora da Apresentação a D. Maria Pereira. E ela aprendeu direitinho! Na verdade, hoje em dia, penso que ela sabia até mais que eu, mas fingia não saber um trecho ou outro para que eu cultivasse minha fé.

    No fundo, no fundo, o estudo aprofundado da Inquisição nem foi tão bom assim pra mim...

    Belo texto! =)

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