O Google-man

Daniel Amaral de Medeiros Rocha é um sujeito objetivo. Responde as perguntas de forma direta, sem rodeios. É meticuloso nos horários e, não é incomum perceber referências de informática nas estampas das camisetas que usa. Nascido na Maternidade Januário Cicco em Natal, no dia 20 de setembro de 1984 e formado em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte em 2006, Daniel mora há três anos em Nova York e trabalha como Engenheiro de Software em uma equipe de cinco pessoas no “Search Quality” da Google. Ele é responsável diretamente pelo sucesso da maioria dos 14,7 bilhões de buscas feitas mensalmente no site de uma das maiores empresas de informática do mundo.


Em Natal entre os meses de dezembro e janeiro, Daniel ficou hospedado no apartamento da mãe no bairro de Petrópolis.Ele veio para cidade durante as férias da empresa para visitar familiares e rever amigos. O engenheiro da Google também aproveitou a ocasião para ministrar no dia 15 de janeiro uma palestra sobre “Software Livre” no auditório do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (I-FRN). Entre linguagens de programação, e sistema de software livre, Daniel falou sobre a sua trajetória e orientou os mais novos a como trilhar o caminho feito por ele e chegar a uma em-presa do porte da Google. Para chegar lá, ele deu três dicas básicas: “estudar, estudar e estudar”.


Apesar do seu jeitão de nerd - como ele mesmo se define hoje - o seu tempo de colégios em Natal, no entanto, era comum. Daniel conta que durante o ensino fundamental tirava notas medianas, nada de excepcional, se comparado aos outros colegas. As coisas começaram a mudar quando, na oitava série, foi incentivado por um professor a participar de uma Olimpíada de Matemática. Descobriu o gosto pelos cálculos e seguiu para o ensino médio no antigo Cefet, atual IFRN. No centro federal, Daniel gostava de estudar história, geografia, além das matérias que envolviam cálculos. “Só não gostava muito de português, acho que ensinavam de uma forma errada”, disse.


Curso de Informática


Além do ensino médio, Daniel cursou ainda o técnico de in-formática na instituição. Foi lá onde descobriu o elemento primordial que o levou à Google: a programação de softwares. Ele gostava de fazer os computadores pensarem, ou como ele mesmo define, “seguir uma receita de bolo”. O gosto pelas máquinas nasceu no lado materno da sua família. “Minha mãe sempre gostou muito de tecnologia, sempre tive muito acesso a informática”, disse. Programar software, para ele, sempre foi um prazer. “É bacana encontrar um problema e resolvê-lo por meio da informática”, disse.


Mesmo ligado a cálculos e a tecnologia desde o ensino mé-dio, Daniel sempre teve uma queda por matérias como literatura, história e geografia. Quando teve que escolher para qual curso iria prestar vestibular, teve dúvidas entre Jornalismo, Direito e Ciências da Computação. “Sempre gostei de política, de análises, o jornalismo me fascinava também”. Um pouco incerto, como a maioria dos jovens da sua idade, decidiu prosseguir com aquilo que tinha co-meçado no Cefet. Sorte a dele. “Não queria engenharia porque queria programar softwares, não lidar com auto-mação”.


Faculdade


Nos anos de faculdade, ele confessa: no início as coisas foram difíceis. Não se deu bem com algumas disciplinas e, até chegar ao estudo de programação, as notas não tinham nada demais. “Comecei a me empolgar mesmo lá para o quarto, ou quinto período”. Na faculdade, conheceu amigos, fez contatos, mas nunca imaginou que um dia pudesse trabalhar numa empresa como a Google. “Achava algo muito distante, meio impossível para um aluno da UFRN”, disse. A idéia de Daniel era fazer mes-trado, doutorado e seguir carreira acadêmica como a mãe a professora Vera Lúcia Amaral de Medeiros. Até que um dia, soube que um amigo próximo foi trabalhar na Microsoft em Seattle. “Foi aí que eu vi que era possível”.


Pouco antes de se formar, acessou o site da Google e da Microsoft, enviou o currículo para as duas empresas. Foi convocado a fazer uma bateria de entrevistas por telefone e ao vivo com a gerência das duas multi-nacionais. Ao final de cerca oito meses, ele acabou sendo aprovado pelas duas. “Ficava direto de olho no email para saber se tinha sido selecionado”, conta. Daniel lembra que recebeu o email de confirmação da Google às 2h30 da manhã. No momento, ele estava conectado junto com a noiva, à espera da resposta.


“Escolhi trabalhar na Google por estar mais ligado ideologi-camente à empresa”, justifica a opção. O fato de trabalhar em Nova York também pesou na sua decisão. Caso optasse pela empresa de Bill Gates teria que ir morar em Seattle. Da aprovação na seleção da empresa, até a mudança para os Estados Unidos, Daniel teve de esperar ainda 10 meses. “Tirar o visto para morar nos EUA é complicado”. Esse tempo, ele aproveitou para ir ao Rio de Janeiro, onde fez um mestrado em informática na PUC. “Saí de lá faltando apenas a tese, que apresentei depois”, conta.


A vida fora


Os primeiros meses fora do Brasil foram difíceis e estressantes para Daniel. Quando chegou teve que morar de favor, antes de arrumar um apartamento, além de comprar todos os móveis. Isso sem falar na barreira lingüística – apesar de fluente em inglês, Daniel explicou que ainda sim tinha algumas dificuldades – no frio e na própria cultura do país bem diferente do Brasil. “Não tínhamos casaco e as pessoas lá não são tão abertas como aqui”, disse.


Na empresa, Daniel conta que foi bem recebido. Nas primeiras semanas como “Googler” (termo usado para designar as pessoas que trabalham no Google) ele passou por oficinas, work-shops e palestras para se habituar ao trabalho na empresa norte-americana. Depois disso, ele passou a integrar a equipe de “Search Quality” – que trabalha com as buscas no site principal da empresa. Entre os fatores positivos, ele cita o apoio que a empresa dá ao funcionário. “Se eu pedir um sofá, na minha sala, para dormir uma hora por dia e garantir que vou trabalhar bem, eles me dão”, disse.


Apesar das mordomias como geladeira com cerveja, tobogãs, mesas de sinuca e videogame na sede da empresa, ele garante que a exigência é muita alta. “Temos uma carga mínima de produção que devemos entre-gar”, diz. Entre outros fatores que ele cita como positivo por trabalhar em um local como o Google está a política da empresa de liberar 20% da carga horária do funcionário para ele se dedicar em projetos individuais. “Eles disponibilizam toda uma estrutura, para você trabalhar num projeto seu. Assim nasceu o Orkut, por exemplo”, conta. Nos seus 20% ele se dedica a trabalhar em “maratonas de programação” feitas pela com-panhia.


Para ele, trabalhar “organizando as informações do mundo” é um prazer. Mas também é difícil, porque qualquer mudança mínima afeta milhões de pessoas. Sobre projetos atuais do Google como o navegador Chrome O.S, ou o Google Wave, a recente polêmica com a China e a iminente retirada dos serviços da empresa no país comunista Daniel se cala. Ele não tem autorização para falar sobre isso. Meio tímido, meio sem jeito, fala que faz parte da política da empresa e pede para aguardar informações oficiais no blog da empresa.


Futuro


A rotina atual de Daniel nos Estados Unidos divide-se entre as cinco ou seis horas por dia de trabalho, cafés em Nova York e a fotografia. Na cidade americana foi fisgado pelo hobby que o consome a maior parte do tempo. Uma vez por ano, vem a Natal para ficar com a família e os amigos que deixou por aqui. Daniel não se vê fora da Goo-gle, ele pretende ainda passar anos na empresa.


“Um dia, ainda faço doutorado”, conta. A ideia é que num futuro distante, talvez, se torne professor. A conversa de Daniel tão objetiva e segura, torna-se incerta para falar do futuro. Ele pretende, em algum dia, voltar para Natal, não sabe como. “As coisas aconteceram muito rápido na minha vida, nem penso direito no futuro”.

Um comentário:

  1. [...] 11 tags: google, internet, jornal, jornal impresso by Fábio Farias Quando entrevistei Daniel Amaral, o natalense que trabalha lá no Google, ele me disse que os funcionários da empresa podem usar [...]

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