De uma nota só

É a mesma música preferida. A mesma. Putz, você me imita, né?


É branquinha, sorriso bonito que gosta de distribuir. Conta piada. Faz aquela carinha de séria às vezes e me soa, quando conversa, desprotegida, confusa. É bonita, mais ainda com aquele sorriso. Encantadora.


Não deixa pagar o cinema, nem a bebida. Faz aquela uma carinha de absurdo quando dou uma volta maior para deixá-la em casa. Rio e a minha vontade é de falar-lhe galanteios. Não faço. Digo só que não tem problema, não precisa se preocupar.


A conversa flui bem. Gosto do jeito que ela fala. A sinceridade que ela usa. Percebo na entonação das palavras uma dose de sentimento. Um sentimento solidário que ela transpira. É inteligente e isso é empolgante. Parece sempre perdida, confusa.


“Deixa ser o seu norte?”


Falta coragem, sempre. Ah, essa maldita coragem. Podia ficar ali, observando aquele jeitinho dela de menina e aquela postura de independência, de mulher.


Não admito que só eu, nesse imenso universo masculino, tenha percebido e se encantado com ela. Deve ter tido mais alguém. É um absurdo que ninguém nunca tenha reparado naquele sorriso, naquele jeito indefeso.


“Eu já amei e fui correspondida”.


Sim, sim, claro. Não seria possível, naquela altura do campeonato não ter aparecido ninguém antes de mim que se encantasse com ela.  Claro que alguém já se encantou. E talvez não tenha sido só um, mas vários. Não há como fugir da aura que ela exala.


Fico imaginando, eu e ela. Levaria com certeza para assistir a filmes. Os melhores possíveis. Emprestaria os livros que falam sobre amor, mostraria os poemas que escondo debaixo do meu colchão e a deixaria falar sobre a vida, sobre tudo só para ser absorvido pelo encanto que ela é.


Ela deve ter um beijo forte, profundo.


Mente roda, boca seca. Peço mais uma cerveja. De repente, nada faz sentido.


Fico feliz por dentro. Tomo coragem.


Logo depois, hesito.


Ela ali, na minha frente. Mais encantadora, impossível.


Então tudo acaba. As horas voam.


Ela levanta. Vai embora.


E não volta.

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