O “Britain’s Got Talent” potiguar

Cadeiras brancas rodeavam um palco multicolorido. Cores e luzes de tom rosa predominavam numa cenografia de dar inveja a qualquer outro programa de TV. Uma voz, por um instante, quebrou a balbúrdia que dominava o ambiente. Essa voz entoava a melodia e as letras de “Como vai você?”, música eternizada por Roberto Carlos. Naquele instante, Fátima Melo se aquecia nos camarins do Clube Atlântico e preparava-se para começar, naquela quinta-feira, as gravações de mais uma edição do seu programa de auditório – sucesso de público a mais de 17 anos na TV potiguar.


O Programa de Fátima Melo é uma espécie de “Britain’s Got Talent” potiguar. Com muito menos glamour e dinheiro do que a edição britânica responsável por revelar a cantora Susan Boyle, o programa de auditório sobrevive nas manhãs domingos levando para o seu público, cantores, dançarinos, Drag Queens e quaisquer outro que se julgue artista ou talentoso suficiente para ser avaliado pelo seu seleto corpo de jurados. Nascido na Band Natal, ele migrou na última semana para o canal SimTV, como forma de atingir um maior alcance no interior do Rio Grande do Norte.


Se não revelou Susan Boyle, o programa teve o mérito de lançar para o mundo o cantor Zezo O Príncipe dos Teclados – aquele mesmo, o dos gritinhos. O feito é contado com orgulho pelo produtor do programa e um dos filhos de Fátima, Ranilton Melo de 36 anos. “Ele veio para o programa, se apresentou aqui e logo depois fechou o contrato para seu primeiro CD”, conta. A responsável por separar o joio do trigo artístico e levar talentos do “show business” brega para o Programa Fátima Melo é a mulher de Ranílton, Elisângela Melo. “Ela faz o contato com as bandas, ouve o material e traz aqui para o programa”, disse.


Dentre as atrações selecionadas a dedo daquela quinta-feira, quando gravavam a primeira edição da SimTV, estava o cantor Messias Paraguai - referência da cena brega nacional -, além das bandas “Forró do Monte” e “Maçã com Mel” promessas do interior do Estado. Os nomes iriam subir no mesmo palco em que o lendário cantor Waldick Soriano esteve. Outro fato, aliás, digno de orgulho entre a produção do evento. “Quando Waldick esteve aqui, ele foi tratado como tratamos qualquer outro artista local”, garantiu Ranílton.


Apesar de todos esses méritos artísticos ao longo desses 17 anos de vida, o programa sempre foi gravado de forma independente. Fátima Melo possui uma produtora de vídeo, a FM Vídeo Produções, em que oito parentes se revezam na tarefa de produtores e técnicos. Para se manter o “Programa de Fátima Melo” sempre usou do merchandising ao vivo. Ranílton garante que o programa foi um dos primeiros a levar apresentadores a mostrarem e falarem, ao vivo, sobre os produtos vendidos pelos seus anunciantes.


O tímido Ranílton fala de coincidência, mas ele conta que o Programa do Ratinho lançou nacionalmente essa forma de merchandising depois que um dos produtores assistiu o Programa de Fátima Melo. “Foi bem estranho, pouco tempo depois que ele esteve o Ratinho começou a fazer isso. Mas não acredito que foi cópia, foi coincidência”, fala, sorridente. Hoje seis patrocinadores, dentre eles, um sindicato, se revezam para tentar conquistar o público que assiste ao programa nos domingos de manhã.


Um dos ápices dos 60 minutos de gravação do programa são as reportagens externas. Munida de seu inseparável microfone dourado, Fátima Melo não deve a ninguém em frente as câmeras. O tema das matérias é, em geral, os eventos populares ou problemas ligados à população. Um dos feitos jornalísticos da equipe de Fátima Melo foi mostrar as atividades voltadas para as famílias dos presidiários de Alcaçuz. “Tentamos sempre procurar um novo olhar, uma perspectiva diferente para o nosso público”, disse Ranilton.


Fátima Melo, a idealizadora


Fátima Melo é extrovertida. Não age como estrela, mas de forma política cumprimenta a todos próximos a ela – mesmo os desconhecidos. Aperta a mão, troca beijinhos, sorri. É simpática e quando está numa longa conversa coloca as mãos sobre as pernas de uma forma que lembra crianças do interior. Fátima nasceu em Currais Novos, passou a infância em Jardim do Seridó e seguiu para Campina Grande (PB) depois de casar, pela primeira vez, aos 13 anos.


Loira, bem maquiada e vestida com discrição, Fátima não aparenta os 51 anos que tem. Aliás, diferente das outras mulheres, não se preocupa em revelar a idade. Ela diz “enquanto houver maquiagem e academia, seremos sempre jovens”. Apesar da forma política de agir com os outros, garante que nunca vai entrar nesse meio. “Tenho uma missão aqui, que é a de ajudar as pessoas, mas não na política”, ressaltou Fátima.


Ela é jornalista por formação, cantora por opção e apresentadora como resultado de diversos fatores que determinaram a sua vida. Antes de casar ganhou o concurso de “A Mais Bela Voz do Rádio” em Jardim do Seridó. Para isso, precisou mentir para o pai, Cassiano Melo, homem de interior e que considerava carreira artística uma desculpa para se tornar vagabundo.


Essa opressão dentro de casa e os costumes da época levaram Fátima para o seu primeiro casamento com o músico paraibano Milton Medeiros. A partir disso, mudou-se para Campina Grande, onde se dedicou a carreira de cantora e se formou em jornalismo. Fátima trabalhou no Jornal da Paraíba na área de diagramação. Nas horas vagas, fazia shows de forró. Gravou discos, conheceu músicos e viu o fim do seu primeiro casamento. Seu segundo marido foi Maciel Gonzaga de Lima, que a trouxe para Natal.


Maciel era amigo do senador Carlos de Souza. O contato levou Fátima a ter suas primeiras experiências na TV Ponta Negra. O início de um programa de auditório aconteceu, mesmo, através de uma parceria com Betânio Bezerra na TV Tropical. À convite do diretor da emissora, Jânio Vidal, eles preparavam aquilo que hoje viria a se tornar o “Programa de Fátima Melo” hoje. Desentendimentos sobre o andamento do programa, fez com que ela saísse da Tropical, rompesse com Betânio Bezerra e montasse seu próprio programa na Band.


No palco, Fátima Melo assemelha-se a uma Angélica com toques de Hebe Camargo. Usa um microfone pequeno em torno da boca e tem um forte apelo junto ao público infantil. A influência, apesar disso, ela garante: vem de vários outros programas de auditório, aos quais ela não pode especificar, mas admitiu uma leve pitada de Chacrinha no formato do programa. No meio de todo o otimismo, Fátima lamenta a falta de apoio de órgãos públicos para o seu programa. “Nesse Estado, eles não valorizam a cultura”.

2 comentários:

  1. Caramba, muito bom o texto.

    Eu lembro que assistia aqui e acolá o programa dela, mas achava meio estranho, tosco, sei lá. Enfim, hoje e após ler o seu texto, sinto que esse é um bom pedaço da nossa cultura televisiva. É um programa original, que está aí há 17 anos. É um case de sucesso sim, mesmo que não seja uma superprodução. Na verdade, é um exemplo de boa vontade e amor ao que se faz.

    Não sabia que Fátima era jornalista por formação. Te juro, criei uma simpatia tão grande por ela no fim desta leitura. Se não já tivesse direcionado minha pesquisa pra TCC (ou pelo menos a ideia dela) acho que Fátima e seu programa seriam um bom tema. Dá pra fazer um estudo incrível sobre o trabalho dessa mulher a influência que ela tem em seu público alvo. Porque o programa pode não agradar os intelectuais da nossa cidade, mas com certeza entrete quem atende sua proposta.

    Bacana demais.
    Bjão =*

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  2. quero saber como faço para mim apresentar no progama pois gosto muito de cantar e creio eu que tenho o talento do canto qualque comentario pode mandar para o meu orkut que estar acimano email obrigado!

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