Mulheres

Mulher tem que ter frescurinha. Uma hora para se arrumar, no mínimo. Batom, maquiagem, lápis nos olhos, experimenta roupa, muda, experimenta de novo, troca. Perfume doce, cheirosa, sorriso no rosto, aquela carinha de “como é que to?”. Horas em frente ao espelho, sapatos com fru fru, sem fru fru, sandálias, saltos e outras infinidades de coisas do universo femino.


Elas, tão bonitas com aquele medo de insetos, nojo das baratas, os gritos e o clamor por ajuda para matar aquele bicho asqueroso que tanto as assusta. O medinho dos filmes de terror, a mão apertando o encosto da cadeira do cinema, os olhos fechados, no escuro, nas cenas mais assustadoras. O respirar rápido, aquela aura de fragilidade que tanto as envolve. O abraço apertado, de medo, em aqueles que as acompanham. A segurança que tanto procuram.


As vozes, os sorrisos tão bonitos e até aquela dose de falta de sinceridade que elas carregam. E a aquela competição interna, feminina, que só elas entendem, o que dizer? Os olhares tortos, retos, direitos, cruéis, bonitos. A ida conjunta ao banheiro, horas conversando, ela deitada na cama, no celular, fofocando, contando histórias, causos. As revistas femininas espalhadas pela casa, o discurso feminista declamado com ardor.


E pela manhã, sem maquiagem, carinha de sono, “quero dormir mais”. O abraço matutino, aquela vergonha besta de se achar feia quando acorda. Ela se levantando, vestindo a roupa. O ritual do café tomado em conjunto, o abraço, o beijo, aquele carinho e preocupação que elas tanto reservam. “Se cuida”, “Vá ao médico”, “Deixa que eu faço isso, meu bem”. A cumplicidade, o almoço a dois e ela ali falando das amigas, da vida ou do sapato que viu e achou bonito. A cara de preocupação, de quem quer fazer parte da sua vida. Elas e o desejo intenso de serem únicas, importantes, e são, dentro de todas as singularidades que elas têm.


Rostinho vermelho, quando envergonhadas, sem saber para onde olhar. “Não queria que me visse assim”. Ou então  nervosas, distribuindo broncas, falando alto, demonstrando autoridade. Apaixonadas, lutam e querem proteger aquilo que têm de mais importante. E com toda agressividade, não perdem a sutileza, nem a beleza dos gestos. Tristes, chorando, cabeça encostada no peito de quem abraça, olhos fechados, derrubam qualquer um, derretem qualquer coração duro, são invencíveis.


Na cama, corpo cheio de manhas e artimanhas. Ela ali, se contorcendo de prazer. Lábio inferior sendo mordido. Abraços apertados. Corpo com corpo. Pernas entrelaçadas, barrigas unidas em um movimento constante. Gemidos e palavras românticas, sacanas, ou simplesmente palavras, ao pé do ouvido, pronunciadas baixas, ou aos gritos. Elas ali na cama, no ritual de tirar as peças de roupas, de aproximar o corpo, de se sentirem rainhas dos seus  homens. Dominam e são dominadas, com a mesma paixão  com o mesmo carinho, com o mesmo amor.


A elas, que pouco conheço e muito me interessam, só me resta dedicar algumas pobres palavras e um sentimento de admiração pela sutileza da vida que carregam.

3 comentários:

  1. Concordo com cada palavra! O engraçado é que eu mesma não sou do tipo "frescurinha". Apenas parcialmente. Mas a beleza das mulheres mora realmente nessas singularidades... que para alguns parece idiotice... mas que no fim, é belo.

    ótimo texto, Fábio.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom o texto. Eu, mesmo sendo exatamente o contrário de quase todo ele, curti, achei meigo.

    ResponderExcluir
  3. voltei aqui pra ver se tinha comentário de suas leitoras, pq minha primeira impressão foi: bem escrito, mas viajou na fantasia. e me perguntei se alguma mulher não ia ficar puta com certa pisada no estereótipo. Ana Morena sacou bem, tem muita meiguice nessa fantasia de bofe novo sobre fêmea. mas talvez aí more o maior perigo... =) abraço

    ResponderExcluir