Copa do Mundo em Natal: poucos ganham e nós pagamos a conta


A série de reportagens da ESPN Brasil sobre os abusos da Copa do Mundo em Natal reacendeu a discussão na cidade sobre o tema e despertou alguns 'mimimis' disparados aqui e acolá por setores mais melindrados da imprensa local.

Foi preciso chegar uma emissora de fora para falar o que todos nós sabemos aqui dentro: a Copa do Mundo em Natal está sendo realizada "nas coxas". E não, nenhum veículo local teve colhão de questionar os abusos, as falhas e os erros que estão ocorrendo. É um silêncio vexatório. 

O estádio em marcha lenta, a cidade sem garantia de que as obras de mobilidade sejam feitas, o desrespeito aos moradores que serão desapropriados e o derrame de dinheiro público que já está acontecendo. Não se vê isso nos jornais, na televisão, nem no rádio. A imprensa trata a Copa como as mil maravilhas. O que, de fato, não é. 

Estima-se que a Arena das Dunas vai custar mais de R$ 1.2 bilhão para todo o estado do Rio Grande do Norte. As garantias dadas a construtora OAS para a construção do Arena das Dunas são royalties de petróleo que o Estado recebe mensalmente (algo em torno de R$ 2,3 milhões/mês).

Além de relatar os abusos da Copa, a matéria da ESPN Brasil vai além e critica a forma que o aeroporto de São Gonçalo está sendo construído, sem estudos técnicos do impacto urbanístico que ele vai causar no município e questiona a operação do aeroporto, que será privatizada. 

O aeroporto de São Gonçalo faz parte de um bastião intocável na mídia local. Chancelada por políticos (muitos dele com participação acionária e diretiva na imprensa potiguar), ninguém nunca foi atrás de saber: qual o impacto negativo que esse aeroporto pode trazer ao município? 

A obra do aeroporto é importante pela movimentação financeira que ele vai gerar, quando for construído, isso é óbvio. Um entreposto Brasil-Europa. Mas será que o projeto executivo dele contempla, de fato, isso tudo? E será que o modelo de concessão trará lucro e benesses para o Rio Grande do Norte ou só para as empresas privadas?

São perguntas que pairam e que vem com outra, a mais importante de todas: qual será, de fato, o legado que Copa do Mundo vai deixar em Natal? 

Até agora, ninguém respondeu essas perguntas. Ao que parece, a Copa do Mundo em Natal será aproveitada por uma parcela pequena da população, lucrativa para uma minoria, mas virá em meio de um esforço de muitos.

A concessão do Arena das Dunas para a OAS será de 20 anos. Isso significa que todos nós vamos, por 20 anos, pagar a conta da Copa do Mundo. 

E quando falamos num evento desse porte, não dá para esquecer: a especulação imobiliária e a inflação devem crescer consideravelmente nos próximos dois anos. A cidade vai ficar mais cara. E a nossa economia, apesar de aquecida, não deve acompanhar a alta de preços. 

Pelo o andar da carruagem, a Copa do Mundo em Natal será boa e interessante para poucos. E a conta será paga por todos nós. 


Um comentário:

  1. Somando coro com o belíssimo texto, ressalto que que o nobre autor esqueceu-se de mencionar que essa Copa do Mundo trará para a nossa cidade mais drogas, prostituição e abusos em diversas ordens. Sem falar que a robalheira e a corrupção aumentam na mesma proporção que os exorbitantes gastos com o dinheiro público. Isso é matemática pura. É só fazer as contas.

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