“A beleza é um atributo da autenticidade. E você é, por si só, autêntica”, reafirmei, enquanto apagava mais um cigarro. Ela não sabia como agir. O rosto ruborizou. As mãos se aproximaram, estavam juntas, uma sobre a outra. Transparecia uma timidez ingênua por detrás daquele jeito confiante. Olhos puxados, pele morena, uma leve etnia indígena. Cabelos que caiam encaracolados por sobre os ombros. “Eu não seria capaz de um embuste tão sofisticado, acredite”, finalizei com um ar de sinceridade.
Olhou desconfiada. Sabia que era um cortejo. Avaliou por instantes as palavras que lhe dirigi. Queria entender a seriedade daquilo. Não conseguia disfarçar o sorriso, por mais que tentasse. Tomou um longo gole de cerveja. Era uma long neck, enfeitada com um canudo fino, branco. Os lábios grossos, pintados de um tom forte de vermelho, puxavam o líquido para a boca. A mão esquerda tocava os cabelos. “Tá bom...” concordou.
Aproveitei a guarda baixa para me aproximar. Pude sentir o perfume dela. Levemente adocicado, guardado em algum lugar daquele pescoço ou daquela nuca. Quis explorar aquele cheiro, encontrá-lo. Passei a mão por debaixo da cintura, enquanto ela dirigia o olhar para mim. Senti o respirar vindo da sua boca. O movimento do seu tronco era rápido. Estava nervosa. Olhos nos olhos. E, num instante, os corpos colaram, uniram-se numa sintonia invisível, enfeitiçados pelo movimento contínuo de nossas bocas. O sangue começava a arder em álcool e entrega.
Levei-a para o carro. O momento que passamos para pagar a conta e caminhar até o veículo foi o suficiente para incendiar ainda mais aquilo que crescia entre nós. Um algo inexplicável, uma atração instintiva. Ali mesmo recomeçamos. Eu me envolvia no seu cheiro, minhas mãos se perdiam em meio as curvas do quadril e do busto dela. Havia uniformidade no corpo daquela menina. Não eram as formas publicitárias, perfeitas, de televisão, mas as curvaturas seguiam um ritmo, quase que musical.
Eu a apertava com força para senti-la em toda plenitude. Retirei a blusa dela sem me importar com nada. O mundo parou. Tudo era o calor que havia dentro daquele carro. Os vidros embaçados. O ar úmido, pesado. Não havia mais pensamento, nem lógica. Nada mais existia, senão aquele sentimento devastador que nos consumia. Era uma espécie de reação natural aos instintos. Eu não controlava mais racionalmente. Meus impulsos e movimentos, eles apenas vinham.
Ela parecia afogada no mesmo transe. A mão subia pelas minhas pernas. Os olhos, fechados. A boca, de um vermelho agora já borrado, grunhia palavras sujas e bonitas, na medida em que nossos corpos se comunicavam. Estava em cima de mim. Balançava o quadril num movimento cíclico. O corpo, o cheiro, o toque ficavam cada vez mais intensos. Queria ela nua, conhecê-la na sua intimidade. Por isso, soltei a fivela do cinto, abri o botão da calça.
Queria rasgar-lhe as roupas ali mesmo e dar vazão àquela energia. O espaço pequeno do carro não era dificuldade. Cheirava cada parte do corpo daquela mulher e, em cada centímetro, percebia uma fragrância diferente. E no momento seguinte estávamos juntos. Grudados. Éramos um só. Ela gemia no meu ouvido, sem se preocupar com pessoas, com motivos, com problemas, com o fato de eu ser, ainda, um desconhecido. Eu senti-a por dentro, os corpos quentes e o respirar arfante.
O tempo simplesmente não existia mais. Havia apenas aquele movimento, que a cada segundo tornava mais forte e intenso a relação que tínhamos. Não sabia quando aquilo iria acabar. Não queria que aquilo acabasse. E, num momento, tudo atingiu o auge. Ele veio em conjunto, como uma explosão interna de energia, sentimentos e sensações. Foi tudo tão forte e tão grande que quando paramos, ficamos ali, abraçados, sabe-se lá por quanto tempo, ainda nus, dentro de um carro quente, de vidros embaçados, estacionado em algum lugar deste mundo.
“O sexo nos aproxima dos deuses”. Ela pousou a cabeça sobre meus ombros. Os braços me agarravam. Não havia mais indício da mulher que foi minutos atrás. Parecia uma menina, uma garota em um breve descanso.
Levantou-se, olhou nos meus olhos, beijou-me os lábios. Disse que precisava ir.
Não, eu não a deixaria.
O amor é sexualmente transmissível.
*A frase: "o amor é sexualmente transmissível" foi retirada do livro "Eu Receberia As Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios" do Marçal Aquino
eu quero esse livrooooooo :~~~~
ResponderExcluir