O fracasso das obras da Copa do Mundo será culpa dos 'políticos locais', segundo pesquisa



Como este blog ultimamente se dedicou a comentar sobre as andanças da Copa do Mundo de 2014, trago ela de volta à mesa para debater um fenômeno interessante, capturado na última pesquisa da Consult.

O blog do jornalista e ex-professor Ricardo Rosado publicou todos os dados da última pesquisa, divulgada na semana passada. Um deles, passou despercebido das discussões locais: a desconfiança que o natalense nutre em relação à classe política local caso as obras do mundial sejam um fracasso.

A Consult realizou três perguntas diferentes para os mil entrevistados de todas as zonas da cidade. A primeira era se acreditava que a Copa traria, de fato, desenvolvimento para a cidade. A segunda versa sobre a 'culpa' caso as obras de mobilidade e as melhorias não venham e a terceira, por fim, sobre se o cidadão acredita se virá ou não muitas obras para Natal.

A primeira mostra o sucesso da campanha publicitária dos governos em vender a Copa do Mundo como algo que trará desenvolvimento. Para 66% dos entrevistados (dois terços), a Copa trará sim desenvolvimento. Outros 23% são céticos quanto a isso. 10% não tem opinião formada.

Ou seja, a população acredita nas 'benesses' econômicas e estruturais da Copa. 

A segunda questionava ao cidadão se, caso as tão prometidas obras do mundial não sejam concluídas, quem seriam os culpados.

A maioria, ou 31.3%, coloca a culpa em 'toda a classe política do Rio Grande do Norte'.  Outros 23.6% na prefeitura de Natal, 23% no Governo do Estado, 24% no genérico 'todos' e apenas 6% culparia o Governo Federal.

Se eliminar o 'todos' pelo fato de ser uma resposta demasiada genérica, temos que 77,9% simplesmente culpam ou culparão a classe política local (prefeitura, governo ou ambos) por uma eventual e provável frustração com a Copa do Mundo de 2014. 

O dado seguinte é interessante e, ao mesmo tempo, paradoxal. O natalense não acredita que o mundial de 2014 vá trazer 'muitas obras' para a cidade. 63.6% dos entrevistados creem que a cidade receberá 'poucas obras', outros 14%, nenhuma obra. 

Duas coisas chamam a atenção: a sociedade diferencia 'obras' do 'desenvolvimento' da cidade, o que é, no fundo, uma ingenuidade da maioria dos entrevistados. O desenvolvimento de Natal, incluindo o econômico, depende da boa execução de obras estruturantes para a cidade. Caso contrário, ficaremos apenas com um caro elefante branco para cuidar. 

A outra é a desconfiança que a população tem com relação à classe política potiguar. Uma Copa nas coxas, como se prevê, será cobrada na conta da maioria dos políticos locais. O Governo Federal está praticamente blindado quanto a isso. O executivo municipal e estadual vão ter que pagar a conta com a sociedade. 

Essa desconfiança pode significar que existe um processo de queda de credibilidade da população quanto aos políticos locais. É um indício. É óbvio que necessitaria, no caso, que uma pergunta direta sobre o grau de confiança do cidadão em relação aos seus representantes fosse feita.

Se esse indício se provar real, é possível até especular a viabilidade, em termos eleitorais, de um nome que não seja tradicionalmente ligado à classe política local, nem que tenha o mesmo discurso. Talvez esse 'efeito' de saturação dos velhos políticos possa trazer reflexos na sucessão municipal deste ano. 

Veremos.

Ah, e vale lembrar que 2014 é ano de eleição para o Governo do Estado e, um fracasso nas obras da Copa do Mundo (não basta só trazer, tem que fazer direito), pode significar a derrota do grupo dominante nas urnas. 


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